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quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

**Análise de obra 2:

O ovo e a galinha

   Este é um dos contos mais emblemáticos de Clarice Lispector. A partir da visão de um ovo que está sobre a mesa da cozinha, o narrador inicia uma série de pensamentos a cerca das mais diversas coisas. Esses pensamentos aparecem de forma aleatória e em fluxo de consciência, onde uma ideia, sentimento, sensação etc, desencadeia outro e assim sucessivamente. Dessa forma, ele vai desconstruindo o objeto que está sendo visto e o ovo passa, então, a ser uma representação de qualquer coisa, física ou abstrata (liberdade, amor, vida, etc.). Assim, através dessa “desconstrução”, o ovo deixa de ser simplesmente um ovo e torna-se a chave para a compreensão do amor, da vida e da própria existência humana. 
   Após anos tencionando que era “importante” e que merecia esse tempo de passagem pela vida, a autora aparece com a ideia de, talvez, sermos apenas corpos agentes utilizados para “camuflar” algo de maior que existe dentro de nós.
Esse pensamento leva a esquecer a noção de individualismo e até mesmo a de ser humano. Como “agentes disfarçadores” perdemos toda e qualquer caráter de autenticidade, conhecimento, poder decisório. Nada mais existe que não um corpo carregando algo, tal como faz o ovo com a galinha. Ela é apenas um espaço que abriga o ovo, diz a autora. Um corpo do qual o ovo se apropria para seguir o seu caminho. Tudo o que ela faz é apenas para disfarçá-lo de modo que ele exista.
   Quando fala do ovo, Clarice Lispector traz ainda a ideia de que se olharmos demais para ele, o perdemos. Ou seja, ele é ovo até que olhemos para ele. Depois que pararmos o olhar e um pouco mais de compreensão, ele se perde. Nada mais é que um ovo quebrado.
  Talvez isso também aconteça conosco, agentes do ovo. Talvez seja essa a grande contradição do ser humano: olhar demais para entender. Entender e perder, pelo simples fato de que tudo é puro e único até que alguém olhe, até que alguém se atreva a simplificar em palavras. Quando isso acontece, o ovo quebra e a galinha seca. Sem interior, nem razão para viver.

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